terça-feira, 29 de setembro de 2009



O CHATINHO

Ao abrir a janela
A grama sorriu para mim.
Avistei também um jasmim:
O chato dos poemas!

Nos meus não tem tal flor,
Não que sofra de amor,
Mas é uma planta chata
Porque não relata

A forma pura de amar,
O jeito simples de viver,
O gosto puro do beijo,
O sorriso sincero de querer.

Prefiro o capim
Que é menos nobre
Mas tem o gosto do amor.

A pobre gramínea
É mais resistente
E temos que agachar
Para lhe enfiar os dentes.

Paste sempre na planta do amor ardente!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009



VIGOROSO

Um quarto
Dez mil histórias
Duas vidas distintas
Um destino.

Cada fragmento de pele esquecida
Se recompondo
Em flocos de lembranças.

A pouca brisa lá de fora
Luta para atravessar as frestas da janela
Levantando o cheiro do seu corpo
E movendo o rio de fumaça
Que nascem entre seus dedos.

O sol, sem piedade, nos lembra
Que lá fora há vida,
Que lá fora a vida se recria.
(em recreio)
O sol que aquece a laje
E transpira nossos corpos,
Nasce as avessas
De cima para baixo
Dentro de um vestido.
(e como brilha esse sol envolto em pano fino e perfumado)

A noite chega
Uma noite não esperada
Estrelas que lardeiam o fim do dia
Sombra fria que leva o domingo
Luar que expulsa as lembranças
E decreta
O fim do quarto.

O sol é puro corpo
A noite é tenra consciência
Em um domingo de
Afável experiência.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009




( ... )


Sem um tema para falar
Sem notas para tocar
Sem imagem para pintar.

Um oco entre o espaço das orelhas,
Mesmo oco separa os braços.

Sem memória para sorrir
Sem motivo para partir
Sem nenhum gosto para sentir.

Um vazio preenche o crânio,
Mesmo vazio no meio do peito.

Sem paisagem para ver
Sem amor para ter
Sem divindade para crer.

Um nada em carne e osso,
Mesmo nada de tudo!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009



iNSPiRAÇÃO MiGRATÓRiA


As idéias me abandonaram
O poema não existe
A mão não o escreve
Não o encontro
E sem o milagre do nascimento
Sem todo sentimento
Sem qualquer linha a preencher
O poema é luto
Fruto:
Embrião que não medrou.
Viverá sempre na idéia da mãe
Que o pariu só em pensamento.
Sem emoção o poema é feto,
Sua morte pré-matura é fato.
O poema sem palavras é mudo
Não murmura ao
Poeta seus relatos.
O poema sem verso
Perde o nexo;
O poema não nasce,
Morre na mão
Do poeta disléxico.
Morte da imaginação
Transfigurando o poeta,
O poema
Em ilusão.

terça-feira, 22 de setembro de 2009



PEDRECO


Pedro Paulo
Pedro Palmas
Anjo sem calma
Felicidade de criança.

Pedro almas
Que veio para alegrar
A vida
Desse padrinho.

Pedro palmas,
Parabéns
Por seu primeiro ano
Palmas para o garoto gargalhada.

Enfrente a vida
Com bravura, honra, força e glória
Sempre assim,
Para obter sua vitória.

Que sejam felizes seus longos anos
Viva!
Pedro palmas
Que alimenta nossas almas.

O mundo que enfrentará de frente
E os anjos da guarda
Te batem palmas.

Em (19-04-2004)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009



NA SELVA


Estava matutando em alguma coisa para começar a escrever, como sempre nada me veio à lembrança ou à idéia. Na maioria das vezes me sinto uma polaroyde, só visualizo fleches e imagens em branco, fico esperando a foto aparecer, mas nada me vem à visão. Já tentei lembrar-me da infância, nada. Procurei a rebeldia da adolescência, pior. Vasculhei o princípio da maturidade, agulha no palheiro.
Resolvi tentar expor minha fascinação pela natureza, tentei lembrar de lindos bichos silvestres que pudessem expressar minha paixão pela fauna a fora, mas o único bicho que consigo me lembrar é do ouriço caixeiro, mas conhecido pelos simples, mas nunca bobos, humanos rurais por ouriço-cacheiro. Vocês já tiveram o prazer de ver tão envergonhado ser? O animalzinho vive de cabeça baixa, não mexe com ninguém; noturno, vive a procurar bebida e comida nas madrugadas itinerantes. Bicho boêmio. Quase não toma banho, dizem que é parente próximo do gambá, não lhe agrada a comparação, uma ofensa, não bebo tanto - disse uma vez. É um bicho que dá pena em quem olha. Um bobo; não corre do perigo; vive dormindo; é meio lerdo; se olhar de perto, de bem perto vai ver é até vesgo; gordo de verme; esquecido; tem perna curta e forte de tanto andar a procura de alimento; desnutrido; quase sem estudo. Seria o maior bobalhão do reino animal se não fosse uma coisa que passa quase despercebido, não ha de ser nada, pois, quase não vemos mesmo. Ver é raridade! Hoje quase não se vê mais. Os que viram, dizem que depois de sentir nunca mais se esquecerão na vida, um verdadeiro e milagroso remédio para a memória. Disfarçado entre os pelos oleosos estão centenas de espinhos mais dolorosos que a mais afiada faca que corta a carne fina e nos dá aquele arrepio típico de corte fundo na carne vermelha. Finos, longos e muito dolorosos. Dizem que a febre vem quase ao mesmo tempo que a dor. O espinho dói e a febre esfria e faz suar. Se passar o tempo sem tratamento, pode segundo muitos, levar a morte. Morte de espinho. Morte por xeretar! Sim, morte por perturbar a paz e a honra dos outros. Como? Simples, o pobre coitado do bicho não sai por ai atirando seus espinhos em quem bem entender, não lemos nas páginas policiais que fulano de tal morreu de espinho perdido. Ou, foi executado com três espinhos na cabeça. Quem já foi atingido por tal projétil espinhal foi porque mereceu, não temos dúvida disso. Tem-se notícia de cachorros metidos a besta; bestas metidas a cachorros; humanos bestas metidos a predadores e destruidores do mundo a seu redor - esses são os piores, pois tem escolha em vez do instinto - que já sofreram da tão dolorosa dor do finco nas entranhas. O mundo tinha que ter um ouriço-cacheiro para cada homem desonesto e traiçoeiro. Aprontou, leva tiro de espinho na cara-de-pau. E nós, simples mortais pagadores de impostos e indignados com tanta miséria no mundo, devíamos ser mais parecido com o ouriço-cacheiro. Não só na cabeça baixa, no jeito de andar, na inocência, no jeito matuto, na luta pela comida do dia-a-dia, na falta de esperança, na descrença. Devíamos, sim carregar os espinhos nas costas com muito orgulho e dispará-los, em um piscar de olhos, livre de pensamento e dó, nos primeiros sem vergonhas e mau-caráter que ousassem nos enganar, nos fazer mal, nos iludir ou simplesmente que nos chamassem de eleitor. Se o Brasil tivesse mais ouriço-cacheiro ele não seria assim...
Hoje estaria com febre. Amanhã, curado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009



QUEM CONHECE ESSE SER?

Quem conhece o ser
Que se diz ser
Seu bem-quer?
Quem conhece tal criatura
Que vive ao lado
Que finge ser formosura?
De onde veio tamanha frieza
Tamanha tristeza
Dessa proeza?
Quem já viu desavergonho tal
Que mesmo fora do carnaval
Faz-se banal?
Quem foi que disse
Que tal semblante
Não esconde um amante?
Foste tu que viste
Pela vidraça
Tamanha devassa?
Quem falou que
A máscara é fraca
Dessa vaca?
Quem sabe quem é
Que merece a rima
Das linhas a cima?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009



MERCADO DE PULGAS

Treinadas para o espetáculo:
Pulgas que vem e que vão
Que passam pelo corpo de qualquer cão
Cometem suicídio
Se houver alguma desilusão
Pulem de cabeça no chão
Morram por boa razão
Nunca derramem sangue em vão
Procurem por solução
Mudem de palco
Passem para outro corpo de cão
Belas pulgas não pulam em vão
Renascem para uma nova paixão
Parasitem esse novo ser
Por pura aptidão
Pulgas que vem
E que vão
Que passam pelo corpo desse cão.

terça-feira, 15 de setembro de 2009




DOCE VENTURA

Assim me encanta
De delícia e fantasia
A vida de certa cachorrinha
Ora chamada Nina
Ora menina
Criatura apelido:
Amora,
Jaboticaba,
Abobra,
Potó,
Poxotó dourado,
Capatinha,
Picurrucha,
Cocrodila de bota,
Tica,
Bigodinha,
Muleca,
Meleca,
Chulenga,
Jujuba,
Tamanduá tátá,
Avestruz,
Cachorro coelho,
Vassourinha,
Sapeca,
Pretinha,
Bidoido di mais.

Bichinho
De estomago voraz
De olhos meigos
De corpo elétrico
De boca mordaz.

Cachorrinha
Que tem vizinhos
Que ama as pessoas
Que sempre faz amigos
Que para pedestres
Que encanta o mundo.

Nina que nos faz sonhar
Que nos traz alegria
Que encanta nossa vida
Que abre gavetas e portas
Que chora nossa partida.

Menina, amiga incondicional
Imperatriz do lar
Imortal em nosso coração
Dona do pedaço
Rainha do reino animal.

Abençoada seja
Sua forma canina de anjo
Que veio do céu nos mostrar
Como a vida é simples
Que não precisamos de muito para viver
Além de carinho,
Ternura e amor.

Nina que ensina os homens
Entre mil mordidas
Que a vida é feita
Para ser brincada
Para ser vivida
E não perdida.

Vida é latido
O poema é latido
A história é latido
Se não compartilhados...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009




CORPO SENTIDO

Aos meus ouvidos
Sua voz não mais pertence
Pertence
Ao vento, que a carrega
Aos quatro cantos do mundo
Levando-te como fumaça de fogo morto
A cada dia
A cada ventania
Para longe de mim.

Aos meus olhos
Seu raro sorriso não mais pertence
Pertence
Ao sol, que o usa como combustível
Adubando a terra de verde clarão.

Ao meu nariz
Seu cheiro não mais pertence
Pertence
A terra, que fará dele uma nova planta,
Uma flor que perfumará a noite
Trazendo-te a lembrança.

Aos meus sentidos
O batimento de seu coração não mais pertence
Pertence
Ao céu, que o usa como um tambor
Propulsor do mar de vento
E sua corrente volúvel,
Que passa por você como uma brisa
Refrescante
E carrega sua doce voz...

Que não mais me pertence
E jamais pertenceu...

(Vento não se cativa)

terça-feira, 8 de setembro de 2009



VIDA LEVADA

Vou levando a vida sem pressa
Sem nenhum adereço
Vou levando a vida expressa
Num só tropeço.
Vida rápida e fugaz
Num último suspiro
Esvai esse rapaz.
Vida sem fim
Do outro lado
- enfim -
Para mim.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ENTRE LINHAS...(leia também os parenteses)...



ELETROCARDIOGRAMA



Parte de meu coração
Como mostram as curvas do meu eletro
Escrito torto em hebraico
Que parte de mim é você.

Cada instante de oscilação
É um milésimo de segundo
(que a saudade trás)
É um vazio interminável
(um raro sorriso)
É um sopro.
(que paralisa o coração)

Sua lembrança me vem a mente
Seu gosto me vem derrepente
(prazer te ter novamente)
As forças retornam
O vazio se preenche
O pulso retoma.
(movendo a vida, trazendo a luz)
O movimento da agulha
Treme o aparelho,
Transformando os rabiscos em
Versos de amor.
(veemente)
Eletrocardiograma:
Escrito em linhas retas
Por palavras tortas
Escrito por meu coração
Sem erro nem pontuação
Que sem você

Eu seria...

Uma linha contínua.

sábado, 5 de setembro de 2009



SÓ COM O TEMPO

Ah... que saudades do meu herói!
Sentado no canto da sala,
Parado
Calado
Sem tirar os olhos da tv
Sem nenhum gesto
Sem rosto algum
Imóvel.
Uma lágrima,
Saudade,
Lembrança,
Paixão.
Hoje a distância me mostra
Que ainda é meu herói
E que no meu coração
Constrói
Um outro você:
Eu.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009



GENITORA

Minha avó
Minha mãe
Mãe de minha mãe.
A rainha da vida
Soberana
Sóbria
Senhora.
Por ela tudo começou.
Gerou a primeira vida
Vida, que gera vida
Antes menina
Mulher mãe
Agora avó.
Mãe de minha mãe
Rainha da vida
Soberana
Sábia
Senhora
Que sempre ora
O bem de seus filhos,
Que sempre chora
a nossa partida.
Sábia
Sóbria
E infinita
Assim como a vida.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009



ETÍLICOS

Quero meus copos de volta
Reunidos em uma só caixa
Cheios de poeira e vão.
Copos em vão!

Quero meus copos de volta
E as lembranças neles contida
Levemente envoltas em álcool
Expelindo cada gota sorvida.
Copo solúvel!

Amor tátil empoeirado:
Isentos de qualquer amor,
Cada um de nós, agora somos
Bebemos em copos separados
E em gavetas privadas os guardamos.
Copo volúvel!

Quero meus copos de volta
Mesmo que estejam quebrados,
Partidos em infinitos cacos;
Por você agora possuo revolta.
Copo rancor!

terça-feira, 1 de setembro de 2009



MAR

O azul veste teu corpo
Azul é teu seio
Azul é teu dorso.
Azul de que tanto falas
Azul que tanto viste
Azul que tanto quero
Azul que me repele
Azul que deseja
Azul que te maquia
Azul que não me beija
Azul que me quer
Azul que me espanta
Azul que me encanta
Azul que requer
Um pouco de amor.
Azul que não quer
Me trazer dor.
Azul que oxida
Azul que enferruja
Azul que mareia
Azul que afoga
Azul invisível
Azul impossível:
De se beijar
De se pegar
De se amar.