segunda-feira, 30 de novembro de 2009



PARA MIM

Quem nunca olhou para parede
Quem nunca quis o futuro
Quem nunca deitou em uma rede
Quem nunca foi dedo-duro.

Quem nunca olhou pela porta
Quem nunca reviu o passado
Quem nunca quis uma torta
Quem nunca foi xingado.

Quem nunca chorou ao ler uma carta
Quem nunca esteve carente
Quem nunca se cortou com uma faca
Quem nunca ficou doente.

Quem nunca escutou uma prosa
Quem nunca deu uma rosa
Quem nunca sorriu
Quem nunca partiu.

Quem nunca me viu...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009



O MERCADO...

O mercado do centro,
Antes de abrir
É só um prédio cinza.
Ao passar das horas,
Com o desabrochar,
Transforma-se em pétala e flor
Em cheiro e sabor,
Em passos e vidas
Cheias sentimentos e cor.
À noite depois de fechado
Torna-se escuro e covil,
Bordel de corpo e alma
Com seus cheiros e sentidos.
Mercado movente.
Casa de tolerância.
Câmbio negro.
Mulheres sem amor,
Dando amor,
Cobrando amor.
Feira livre
De pura
Oferta e procura.
O mercado a noite e de dia
Abastece o homem de carne
E grão, sem rancor.
A manhã que torna todo dia
Clareia de escuro à cinzento,
Despertando novamente
O empório,
Transformando tudo em pétala
E flor e amor.
O mercado é
Compra e venda,
Cada mercadoria
Tem seu apreço
E valor.

domingo, 22 de novembro de 2009



FIM DE ANO

Todo ano tem fim de ano,
Todo ano continua,
Tudo continua na mesma...
Ano inteiro a espera
Do fim de ano à esperança de tudo mudar,
Mas fim de ano não muda nada,
O que muda o ano são os homens que não
Sabem amar.
Todo ano tem fim de ano,
E suas promessas repetidas,
E tudo continua na mesma...
Ano inteiro esperando
A vida roubar um pouco de vida
Que ainda resta
Aos homens que aprenderam a amar.
Todo ano tem fim de ano...
Todo fim, é fim de ônus...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009



FEIRA

Essência...
Essência...
Eu preciso de essência...
Deixo logo solto no ar, que essência não é perfume...
Daí-me essência em tudo que me cerca,
A dos vegetais, animais e minerais...
Dos humanos (como é difícil distingui-los)
Eu preciso de essência,
Não somente afago,
Sorriso educado,
Alegria
E corpo desfrutável.
Quero a essência de cada consciência!
Estou pronto,
Quem tentará abstrair a minha?
Vem, pegue-a como se pega uma fruta
Não escolhida
Em uma banca de feira,
Fite-a, pegue-a, e se vá
Sem olhar para trás
Leve-a contigo para casa,
Coma-a, lambuze-se,
Ou deixe-a apodrecer
Em cima da gamela de frutas por comer...

terça-feira, 17 de novembro de 2009



FINDO

Mais um livro findo
Não absorvido
(destituido...de idéias e propósito)
Porque ler se sou disléxico de corpo e alma?
Se não lembro o que li
E onde o guardei?
(se guardei)
O que fica é uma névoa
Que...
Que embaça os olhos...
Uma dor ardente...
Cerro as pálpebras,
Sensação brilhante
Momentânea, instantânea
Lembrança da página sem conteúdo...
Sem memória.
Sério, porquê que leio,
Se quando entendo os versos (da vida)
Já é tarde de mais?
Leio por ler?
Ou...
Procuro o acúmulo de inteligência
À estante de portas fechadas que sou?
Prateleiras carregadas de volumes de diversos títulos,
Mas vazia de conhecimento.
Dispensa de traças!
Então, porquê leio
Se não aplico nem replico?
Leio para preencher as horas vazias
E... como o tempo é vazio...
Eu completo vazio...
As palavras que leio saem de mim como
Água escorrida de cachoeira
Vão parar não sei onde,
Não consigo acompanhá-las...
Eu esgotado até a última gota...
Quando leio me preencho até o final de cada verso
No próximo já me esqueci do anterior.
O que fizeste de mim Deus?
Porque fizeste de mim um livro que não sei ler?
Que não consigo compreender?
Muito menos citar?
(me faço esquecer...escapando...)
Eu, logo eu...
Livro de prateleira fechada,
Livro sem leitura,
Livro de enfeite no armário da vida.
(ah, que esperança levar umas lambidas...
ao ser lido frente e verso em passagens de páginas,
por qualquer rapariga...)
Mas sou livro de armário fechado!
Sem luz,
Sem cor,
Sem curiosidade,
Sem conteúdo...
Quem abrirá um dia esse móvel vil,
E por pura sorte, por sorte,
Escolherá tal livro?
O livro esperando por ser preenchido,
Decifrado,
Simplesmente lido!
Findo.

Livros não pedem: esperam!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009



TATO

Frases de mim que não deram em nada...
Dividido entre o bem e o melhor
Desencontrado em cheiros e gestos
Pensamentos em mim que não levam a nada...
A janela está aberta, mas o vento não entra,
Lá fora o céu derrama-se em nuvens de lágrimas
Com olhos roxos de apanhar do tempo.
E o vento, nada.
Nada!
Tento passar as horas lendo,
Perdido em sentimentos de outros autores
Sentimentos todos estes, que mais parecem meus...
Os sentimentos deveriam mudar a página,
Ter ponto de fim.
A dor do autor é diferente em cada leitura,
Misturada à dor de cada leitor...
Escarra autor,
Exclama dor no peito de cada leitor!
Leitor e autor divididos,
Desencontrados em suas dores,
Iludidos por seus amores...
Autor e leitor perdidos em páginas amareladas
Pelo tempo de uso, gastas por restos de saliva
Deixados por pontas de dedos desconhecidos,
Nas viradas exaustivas das paginas
À procura do fim da historia,
Que não tem fim.
Minha inspiração foi pega pela fome!
Desviei-me em nome da energia corporal,
Das lombrigas que de mim castigam,
Da falta de comida no cérebro...
Mas continuo di-vi-di-do...
Sem fome... porém vazio.
Onde esta o vento que não cospe sua brisa em minha face?
Queria que o autor parasse de repassar meus sentimentos,
Pensar repensando...
Repassando...
Fecha logo esse baú de lamentações
Abrace todas as razões e fuja!
Pára sua pena,
Que fecho meu livro!
Vai autor a procura de sua dor
Que vou eu leitor, a procura de um amor...
Atrás de um ponto de fim
Nessa história injusta vivida em mim.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009



LEMBRANÇA

Quão lembro
De meu pai
Criança, lembrança
De mim?

Lembro do velhote
De porte forte
Que deixou a morte
Para mim,

Lembro da vida
Lembro da lida
De todos os dias, enfim

Lembro do esporro
Do cheiro de mofo
Que tinha o fim.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



ADUBO

Como despedir de um amor?
Amor não se despede
Amor não tem tempo
Amor é presente
Amor fica,
Fica cravado em cada pedaço do corpo,
Em cada lampejo de memória,
Em cada olhar, (perdido)
Em todos os cheiros sentidos,
Em todas as manhãs acordadas,
Em cada noite velada,
Em todos os dias sofridos no trabalho,
Em cada conversa,
Em todos os poemas,
Em cada linha escrita e recebida,
Nas lágrimas derramadas,
No medo de perder, perdendo.
O amor, ah o amor...
Não posso deixá-lo ir...
Não, nunca vou perdê-lo!
Tudo que tive desse amor
Levarei comigo.
Se sou melhor hoje,
Devo a esse amor!
Um amor que nunca,
Nunca terei igual
De novo.
Não despeço de ti amor,
Fico contigo em cada minuto
De minha reduzida vida,
Levarei triturado em mim
Como pó
Em cada poro
O amor que tenho por ti
O amor que ama o amor,
Amor simples e perdido
Perdido em todos os sentidos
E sentimentos.
Mas desse amor não...
Não esquecerei jamais
Tamanha intensidade
Pureza,
Realidade,
Quase um amor canino
Amor pra dar e dizer que não recebe,
Percebe?
Dizer, não é não receber!
Te levarei amor puro
Para dentro da terra
Que é o lugar que merecia eu
Jamais ter saído
Por não perceber tamanha grandeza.
Deveria voltar a ser pó,
Barro,
Voltar a fazer parte da terra
E nela me fundir
Virando adubo
Para que um dia,
Um dia qualquer...
No buraco que fui enterrado
Possa nascer a mais bela flor,
A flor da superação
A flor da transformação
A flor do nosso verdadeiro amor.
Cavo aqui meu fosso,
Nele me deito
Esperando ser adubo
Esperando... esperando...
Esperando... esperando...
Um dia
A flor
De mim surgir
Em forma de amor.