terça-feira, 26 de janeiro de 2010



SOLO SOLAR

Sementes atiradas em solo ruim brotam?
O que vem ao caso não são as sementes,
E sim o solo.
Como falar dessa substância, dessa matéria,
Desse minério esfarelado e inútil,
Se visto separadamente?
O que falar de suas rachaduras áridas?
O que falar de sua secura?
O que falar de sua esterilidade?
Aquilo que serve para caminhar...
Não desprovido de proteção,
Pois se assim for pode causar ferida,
Queimadura, inflamação,
Gangrena.
O que falar de uma espécie que se denomina crosta?
Solo morto é simplesmente a capa do globo!
Parte superficial de tudo que vemos.
Solo improdutivo... é vida solo...
Mas...
Solo devidamente regado
Cuidado com carinho, destreza e desvelo
Torna-se vida!
Ah... pedaço de chão capaz de produzir com facilidade,
Ser produtivo e criador,
Abundante!
Úbere de gemas e amor.
Renovação da existência terrestre.
De ti solo puro e fértil
Nasce tudo, vinga tudo, flori tudo,
Tudo se torna viçoso e cheio de frescor
Tu solo criador,
Transforma o mundo inteiro
Em diversas espécies diferentes
De flor...

(Nenhuma transformação é um ato isolado,
Para um amplexo são necessários dois corpos.
Para a fertilização da vida, várias variáveis
E um fator comum)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010



NINGUEM MAIS VÊ

Eu sei,
Eu sei...
Sei por quais margens,
De rios turbulentos andei
Para chegar à calmaria
Do lago tenro que sou...
Convido-te
A banhar-se nessas águas que renovam a alma
Que transcendem energia,
Que transferem paz,
Que ferem!
Águas do amor que ninguém mais vê.
Minhas flores dadas e retiras
Serviram para feri-la,
O buquê que me deste serviu para libertar minha alma.
A vontade é desejo de sorrir em paz!
Lembro de seus olhos
E ainda sinto um calor que derrete cada pedaço
De meu corpo,
As pernas tremem,
Os lábios se tocam
E penso:
Mata-me depressa...
Não sei se sou o autor ou o personagem!
Assim como Georg de "O Veredicto":
Corro para a ponte, salto seu parapeito,
E me deixo cair... no imenso vazio,
Para tornarem verdadeiras
As palavras duras, atiradas ao ar,
Contra todos os gestos e sentimentos
Que de mim brotaram...
Não sei se assim pode ser,
Mas deixe-me viver
Tudo outra vez...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010



O PRESENTE

A alegria tornou-se presente.
A paixão tornou-se presente.
O amor tornou-se presente.

Presente de mim você surgiu.
Presente de mim você pediu.
Presente de mim você realizou.

O desejo tornou-se presente.
O companheirismo tornou-se presente.
O sonho tornou-se presente.

Presente de mim você mudou.
Presente de mim você amou.
Presente de mim você me quis.

O presente trouxe você de presente,
Recebi o presente, que no presente me torna feliz.
Amo o presente, presente em você.
Você, o único presente pra mim!

domingo, 17 de janeiro de 2010



TARDIA


Hoje me libertei das correntes
Enferrujadas que feriam minha pele
E me prendiam a um passado de tortura
E desprazeres.
Liberte-se corpo presente,
Oponha-se a você mesmo,
Oponha-se a seus costumes,
Atravesse os limites,
Pois as barreiras só existem em sua mente!
Liberte-se e não se aglomere para viver,
Fuja dos quilombos!
Aproveite-se Lobo desgarrado.
Vagueie pelo mundo absorvendo o que puder.
Alimente-se,
Crie gordura para enfrentar o rigoroso inverno futuro.
Mas não hiberne,
Saia curioso e cauteloso
À luz do sol que ofusca a visão
Levando-te à escuridão momentânea,
Mas trazendo-te a clareza que procura.
Aprenda a escutar as batidas do seu coração,
Entre em seu ritmo
Entenda-se,
Estenda-se,
Procure o seu perdão, desculpe-se de si.
Fugi da senzala escura e úmida,
(com seu cheiro forte de fumaça e suor)
De pés descalços corro para meu interior,
Fujo de meus capatazes
Procuro minha liberdade em mim,
Porque de mim estarei livre
Vivendo plenamente
Eu mesmo,
Só...
Por escolha,
Por falta do que se preste ao lado,
Ou por falta de algo que me preze.
Vida dura de escravo intrínseco!
Suo em trabalho forçado
Para me aceitar como sou...
Sou alma?
Sou as palavras recebidas pelo correio eletrônico
No dia em que nasci?
Soul...
Sou um escravo sem dono
Com utilidade vencida,
Com profissão morta!
Hoje me libertei de tudo quanto não é proibido por lei...
Libertas quae sera tamen!
Corro...corro...corro...
Deixando para trás somente a corrente de ar
Que rodeia meu corpo
E golpeia as folhas secas sobre o solo
Mudando-as de lugar
Para adubar um novo pedaço de chão.
Ah... escravo sem rumo,
Fora de prumo,
A procura apenas de um canto bruno
Para despedir-se
Desse corpo aborrecido,
Calejado
E já inútil.
Torno-me à senzala
O berço que outrora nasci
Onde,
Ao terminar esses versos
Também Jazi.

(perder algo que não é nosso é fácil e não deixa estrago)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



O QUE SOMOS?

Querer um espaço
Nem que seja o quarto sujo,
Escuro e mal cheiroso
Onde se guarda o ser,
O monstro,
O rola-bosta de "A metamorfose".
Depois de certo tempo somos descartáveis,
Cada vez que se muda
Se é esquecido e deixado à morte.
Se ainda não sei de mim,
Porque querem para mim?
Como todos têm a capacidade de querer
Tudo para os outros,
E sem perguntar nada...
Somos o que somos até querermos ser,
Ou podermos ser.
Não nos forcem a transformarmos-nos num inseto que não somos!
Em um ser que repugnamos!
Pois se assim for
Largaremos tudo,
Viveremos isolados
E definharemos famintos
Até a morte desejada.
A espera é uma virtude!
Tudo se move,
Tudo se transforma,
Tudo se renova:
A vida e a morte.
A calma é a pureza da alma!
Que o tempo faça se parar
De tal forma
Que possamos nos encontrar
Ainda nesse mundo
Bem-querer nessa vida,
Porque se forem nas próximas,
Teremos que evoluir e batalhar demais...
E para quem deseja ser cachorro
Seria uma vida quase impossível...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010



MÃE

A primeira voz
O primeiro amor
O primeiro convívio
O carinho!
O prazer de ter,
O ser e o bem querer.
A felicidade!
O poder de estar junto
Ligado a um fio:
Serei sempre seu filho.