segunda-feira, 29 de março de 2010



PERDIDOS

Alguém me diz o que fazer:
Devo sair da selva
E escolher uma das pedras
Que se equilibram na balança.
Qual pedra retirar do prato dourado?
Ficar entre as pedras:
Branca ou Preta...
A luta pela libertação do mal
E o contra-ataque de clausura do bem.
O caminho que percorremos nessa escolha
Para alcançar o premio luz,
Não se justificam os meios?
Devemos escolher o caminho
Ou já nascemos pré-destinados a seguir
Qualquer um que seja?
A natureza Humana
Ou Divina, nos da o livre arbítrio,
E se nos dá, porque tantos testes?
Fomos feitos com defeitos...
Não somos mais a semelhança?
Nossas ações nos transformam
No que seremos ao final de cada tempo?
Somos homens feitos pra passar por provas,
Só assim nos tornamos melhores ou puros?
E os animais... o que provam,
Provam cada vez mais
Que somos todos irracionais?
Somos uma coleção de escolhas seletas,
Ou somos nós mesmos as pedras
Que se equilibram suspensas no ar
Dentro de uma esfera linda e azul,
Somos as pedras que nos matam
E nos renovam?
Ou apenas somos
Os animais que não
Sabem nada de mais,
Perdidos dentro de um planeta
Que gira perdido
Dentro de um espaço gigantesco
E sem fundo?
Ainda assim para vivermos
Depois da morte,
Precisamos de predileção...
E você...
De que lado está
Do anti-morte
Ou do pós-vida?

sexta-feira, 26 de março de 2010



FIM DA ESTAÇÃO

Pela primeira vez, te vi
E o que vi, não foi bom
Pois te vi com o coração
Fazendo perder o que de mim
Restava de razão.
Razão paradoxal
Como sua figura estática
Em frente a uma porta
De uma casa já morta.
Hoje que te vi
Percebi que de ti
Restou apenas um pouco de mim,
Morto e estático,
Sem razão
Mas com amor no coração.
O que ocupará o lugar
Que outrora fora meu
Lar?
Os filhos que viriam
São agora frutos da imaginação,
Foi tudo, um engano de sensação?
Fora, fora com tudo isso...
Deixe as lembranças como estão,
Bem no fundo da alma,
Cravada como uma faca
Em cada coração.
E por que diabos
Não paro de pensar nisso:
É amor ou pura ilusão?

quinta-feira, 25 de março de 2010




VIVO SONHO

Todo dia ela me fala
Que tudo vai acabar.
Durmo...
Na esperança de não acordar.
Que o dia se transforme em noite
Para que eu possa parar de escutar
Que tudo vai acabar.
Sem suportar
Tento um acordo
Com o tempo,
Que ignora minha súplica.
Nada para o relógio...
Acordo...
Novamente para o dia
Com esperança que a alegria
A transforme
E não a deixe falar
Que tudo vai acabar.
A vida devia ser um sonho!
Um sonho para se sonhar:
Que esse dia nunca chegue
Que as palavras nunca se proclamem,
Acordo para o dia
Sem nunca acordar...

terça-feira, 2 de março de 2010



PROJETIL

Assim como bala
Que já sai do cano
Cheirando a sangue
Somos condenados
Ao fado já traçado.
O tambor gira
Mas o gatilho já não obedece
Aos comandos,
Bala de “matadeira”
Desperdiçando vidas alheias!
Sem controle
E sem noção
De uma situação
Que antevejo,
Cuspo no chão
A espera do tempo
Que a ampulheta viscosa
Me dá até secar,
Tempo precioso
Que tenho para pensar
Únicamente em mim...
Meu tempo é cuspe seco,
É marca no chão de ninguém!
Decomponho vivo:
Vivo, perco meu alento de compor...
Como animal morto à beira da estrada,
Espero que os urubus
Se alimentem de minha carne,
Façam-me desaparecer.
Defecado de volta ao solo
Torna-me combustível fóssil
Ou desejo de mulher:
Fruto de carbono puro,
Diamante perfeito
Sem lapidação.