terça-feira, 18 de agosto de 2009



O RADICAL MUNDO NOVO


Ta aí, foi com os trintinha mostrando sua presença nas marcas que o tempo traz ao nosso rosto, que resolvi, num súbito momento de loucura ou desespero, não me lembro bem, só sei que não pensei muito no assunto. Resolvi. Fui lá e me matriculei em uma academia de ginástica. Ponto. Pronto.
Nunca tinha praticado um esporte com freqüência respeitável, ou saudável como uns gostam de chamar. Esporte para mim tinha a freqüência de um natal, com a durabilidade do carnaval, com o esforço físico de uma partida dificílima de sinuca disputada com um companheiro de cabulação de aulas.
Chegando à terra desconhecida me deparei com os mais estranhos e sinistros aparelhos de ferro espalhados por uma sala iluminada e cheia de espelhos, pareciam ter saído de uma série de ficção cientifica dos anos cinqüenta ou máquinas de tortura usadas pela inquisição para mostrar a pureza do Cristianismo os pagãos remotos. Fui apresentado a todos os aparelhos pelos seus respectivos nomes, cada um melhor que o outro, uns simpáticos outros nem tanto, gostei em especial do apolete, nome apetitoso, carinhoso, digno de apelidar intimidades femininas, quando lhe damos personalidades e vozes. Ah! apolete...
Passando-se as apresentações teve inicio a fase da tortura em si, comecei a usar as máquinas. Cada uma tinha o movimento certo para o músculo apropriado, uma endurece isso, outra aquilo, no geral todas servem para endurecer sua carne te transformando em um gado impróprio para consumo canibal, mas muito apreciado aos olhares de espécimes do sexo oposto. Funciona assim: começa numa correria transloucada, que nunca se chega a lugar nenhum e não se vê a paisagem passando a sua volta, após um tempo determinado um bib lhe diz a hora de parar e mudar de suor. Chega a vez de levantar pesos, balançar pesos, baixar pesos, empurrar pesos, xingar os pesos, chutar os desgraçados, querer matar quem inventou essa merda, puxar a merda, empurrar a merda, levantar a merda, baixar e balançar a merda. Burro, é assim que me sinto, um típico burro de carga que trabalha sob o sol com os incentivos das chicotadas de seu dono que só sua quando levanta o braço para o próximo estalo no lombo eqüino. É o prazer do instrutor te lembrar o próximo trampo, dá para escutar o chicote te cortando a carne. Os instrutores não passam de sádicos. Mas assim como os burros: acostuma-se.
Um dia correndo na esteira, a estrada sem destino, me deparei cantando uma música, o alivio veio ao meu encontro, foi como nascer de novo, esquecer todos os males, me desligar do mundo, ser o mundo sem ninguém, só o mundo. Quando vi tinha parado de correr e começado a andar com um gingar no corpo, um andar malandro, com os braços balançando em sintonia alternada e só uma frese me vinha a mente: “ei dor... eu não te escuto mais... você não me leva a nada, ei medo não te escuto mais... você não me leva a nada... e se quiser saber pra onde eu vou... pra onde tenha sol... é pra lá que eu vou...” Foi assim que perdi o medo da academia. Mas ainda continuo procurando o sol.

Um comentário:

  1. Humm... Q legal do texto.
    Mto, mto massa...
    Não sabia q vc tinha todo esse pavor de academia. rsrsrs. Mas será q isso é culpa nossa? dos instrutores? espero q não.
    Ta precisando voltar a sua "tortura em si"!
    Mas foi legal o texto, a "homenagem".
    Valeu
    abração e aparece aí qualquer dia desses.
    LEAL

    ResponderExcluir