segunda-feira, 21 de setembro de 2009



NA SELVA


Estava matutando em alguma coisa para começar a escrever, como sempre nada me veio à lembrança ou à idéia. Na maioria das vezes me sinto uma polaroyde, só visualizo fleches e imagens em branco, fico esperando a foto aparecer, mas nada me vem à visão. Já tentei lembrar-me da infância, nada. Procurei a rebeldia da adolescência, pior. Vasculhei o princípio da maturidade, agulha no palheiro.
Resolvi tentar expor minha fascinação pela natureza, tentei lembrar de lindos bichos silvestres que pudessem expressar minha paixão pela fauna a fora, mas o único bicho que consigo me lembrar é do ouriço caixeiro, mas conhecido pelos simples, mas nunca bobos, humanos rurais por ouriço-cacheiro. Vocês já tiveram o prazer de ver tão envergonhado ser? O animalzinho vive de cabeça baixa, não mexe com ninguém; noturno, vive a procurar bebida e comida nas madrugadas itinerantes. Bicho boêmio. Quase não toma banho, dizem que é parente próximo do gambá, não lhe agrada a comparação, uma ofensa, não bebo tanto - disse uma vez. É um bicho que dá pena em quem olha. Um bobo; não corre do perigo; vive dormindo; é meio lerdo; se olhar de perto, de bem perto vai ver é até vesgo; gordo de verme; esquecido; tem perna curta e forte de tanto andar a procura de alimento; desnutrido; quase sem estudo. Seria o maior bobalhão do reino animal se não fosse uma coisa que passa quase despercebido, não ha de ser nada, pois, quase não vemos mesmo. Ver é raridade! Hoje quase não se vê mais. Os que viram, dizem que depois de sentir nunca mais se esquecerão na vida, um verdadeiro e milagroso remédio para a memória. Disfarçado entre os pelos oleosos estão centenas de espinhos mais dolorosos que a mais afiada faca que corta a carne fina e nos dá aquele arrepio típico de corte fundo na carne vermelha. Finos, longos e muito dolorosos. Dizem que a febre vem quase ao mesmo tempo que a dor. O espinho dói e a febre esfria e faz suar. Se passar o tempo sem tratamento, pode segundo muitos, levar a morte. Morte de espinho. Morte por xeretar! Sim, morte por perturbar a paz e a honra dos outros. Como? Simples, o pobre coitado do bicho não sai por ai atirando seus espinhos em quem bem entender, não lemos nas páginas policiais que fulano de tal morreu de espinho perdido. Ou, foi executado com três espinhos na cabeça. Quem já foi atingido por tal projétil espinhal foi porque mereceu, não temos dúvida disso. Tem-se notícia de cachorros metidos a besta; bestas metidas a cachorros; humanos bestas metidos a predadores e destruidores do mundo a seu redor - esses são os piores, pois tem escolha em vez do instinto - que já sofreram da tão dolorosa dor do finco nas entranhas. O mundo tinha que ter um ouriço-cacheiro para cada homem desonesto e traiçoeiro. Aprontou, leva tiro de espinho na cara-de-pau. E nós, simples mortais pagadores de impostos e indignados com tanta miséria no mundo, devíamos ser mais parecido com o ouriço-cacheiro. Não só na cabeça baixa, no jeito de andar, na inocência, no jeito matuto, na luta pela comida do dia-a-dia, na falta de esperança, na descrença. Devíamos, sim carregar os espinhos nas costas com muito orgulho e dispará-los, em um piscar de olhos, livre de pensamento e dó, nos primeiros sem vergonhas e mau-caráter que ousassem nos enganar, nos fazer mal, nos iludir ou simplesmente que nos chamassem de eleitor. Se o Brasil tivesse mais ouriço-cacheiro ele não seria assim...
Hoje estaria com febre. Amanhã, curado.

Um comentário:

  1. Se em nosso país tivesse pena de morte eu queria ver se existiria muitos cachorros metidos a besta!Eu sou a favor..e mto! Detesto esses humanos bestas metidos a predadores e destruidores do mundo.
    Fabiano

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