quarta-feira, 30 de junho de 2010



O BEIJO

A tarde era fria de como tantas outras desse inverno recente , tinha sentido falta do sabiá que não limpava seu trailler regado à água e cachaça (ou seria conhaque naquele copo sempre por terminar?). O sol fazia a sombra dos bancos no chão da praça, marcarem três horas; os moleques praticavam seu balé diário atráz de uma bola de couro - velha, suja e meio murcha - com muita gritaria, parecia que não disputavam quem tinha mais destreza e intimidade com tal bola, e sim, quem tinha a garganta mais potente em freqüentes agudos.
No meio da praça, avistei um casal sentado em um dos bancos, não sabia ainda do que se tratava. Até o presente momento eles não tinham se dirigido à palavra e tão pouco olhares; cada qual olhava em sentido oposto girando a cabeça da esquerda para a direita formando ângulos de cento e oitenta graus , como se tivessem analisando e conferido se no terreno não existia predadores ou algum perigo proeminente. E foi assim que de repente... pluft! Os dois viraram um só corpo, eram como imãs de polaridades opostas coladas através da boca, o positivo não desgrudou do negativo durante os três minutos seguintes. Com a mesma rapidez que se juntaram se separaram (as polaridades tornaram-se idênticas?) e começaram a vistoriar o terreno novamente, sem nenhuma palavra, nenhum contato, nenhum olhar. Desconhecidos novamente.
Foi aí, que me ocorreu que isso deveria ser o famoso “ficar” que tanto escutamos hoje em dia, era isso, tinha feito a descoberta da minha vida: ficar era ser como imãs de polaridades opostas, três minutos depois, polaridades iguais e então... desconectados amorosos (como se existisse amor em tal ação). É melhor do que imaginava, não precisamos mais inventar histórias; paparicar; cortejar; mostrar o quanto somos inteligentes; treinar a arte da conquista; ouvir ladainha horas a fio e fingir que somos interessados por moda, psicologia, corpo celeste, vida alheia, sapatos, maquiagem e mapa astral, blá...blá...blá...blá...
Viva o ato de ficar! Viva o beijo adolescente: animal em intensidade e esquecimento.
Nos tornamos bichos novamente, os mesmos que grudam de costas um para o outro (depois de acasalar) e após três minutos não se lembram de mais nada, ou fingem que não:
- Ãhm, o que você disse?
- Ãhm, não disse nada.
- Disse não?
- Não.
- Ah, tá!
- Então tchau, me liga.
- Ok,Tchau... ligo sim...
- Té.

2 comentários:

  1. Gde Alysson.
    Fazia tempo q nao lia seus contos...
    Esse é bem legal. Pena q a época disso ja passou. rsrs
    abração
    LEAL

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