terça-feira, 30 de junho de 2009



CHEIOS DE SI

Pobres peitos
que não têm sal,
salmoura... masmorra,
prisão do meu ser.

Pobres peitos
que não têm sustento
parados no ar
seguros por meus pensamentos.

Pobres peitos
que não me conhecem
mas a todo instante
me enlouquecem.

Pobres peitos
que sempre me olham
mas nunca me tocam
e riem de mim.

sábado, 27 de junho de 2009



A CANECA

A borra preta
No fundo da minha
Caneca companheira
Trouxe-me à lembrança
As noites passadas em branco
Com os pensamentos a mil.
Cada problema indo e vindo
Cada vontade explodindo
Cada sonho se esvaindo.
Caneca vazia de líquido
Mas cheia de ar
Noite que parece nunca mais
Acordar.
Travesseiro ouvinte
Travesseiro conselheiro
Travesseiro terapeuta.
Novamente
Saio a procura de minha caneca
Encho-a de café,
Bebo!
Amargor adocicado na língua.
Os pensamentos seguem o caminho do liquido,
Saem da cabeça
E se acomodam no estômago,
Retidos nas vísceras
Causam gastrite.
Úlcera:
A cólera do pensamento na barriga!
Pensamentos indigestos
Pensamentos insolúveis
Pensamentos molestos.
Preto pó diluído
Salvador da dor dos pensamentos
Beberei de ti
Se preciso for
Milhões de vezes mais
Dentro de minha caneca medicinal
O preto líquido
Não deixará
Transformar-me em
Borra...
Jamais.


PAPEL EM BRANCO

É sempre assim...
Rabiscado,
Escrito
Apenas nos cantos
Às vezes, uns contos.
Sempre ao relento
A espera de idéias,
De luz
De paz
De dor
De uma história,
De alguém.
Sempre aberto
Oferecendo-se
de perto.
É sempre assim...
Um papel em branco
À espera
De um encontro
De um fim
De mim.

sexta-feira, 26 de junho de 2009



NASCE O AMOR

O amor nasce em uma tarde de passseio com o cachorro.
Nasce de um olhar diferente, ardente e fixo.
Nasce até em devoção ao crucifixo.
Nasce por ser proibido,
dizem que aumenta a libido.
Simplesmente nasce...
No banco da escola
Nas quartas em que se joga bola
Na música em comum
Nas fotos de quando éramos crianças,
empoeiradas num álbum.
Nasce de um detalhe,
De uma marca
De um sinal que não conseguimos esquecer.
Na sala de estar
Na mesa do bar
Na janela do vizinho
Nos copos de vinho
Nas filas de espera
Nos banhos de mar
Na esperança de chegar ao altar
Nos desfiles de moda
Nas revistas do mundo a fora
Na correria da hora do recreio
Nas cartas entregue pelo correio
Nos pontos
Nos bancos
No aperto do corredor dos ônibus
Por ônus
No livro indicado
No amigo do namorado
No amigo do amigo
No embriagado
No meio do sermão do padre
Na parte podre da cidade.
Nasce do gosto de cada um,
Pode ser um bigode,
Cheiro de bode,
Olho torto ou de peixe morto,
Perna curta, pescoço longo, muito tamanho ou falta de tal.
Nasce das brigas de um casal
Nas cintas-liga, que embalam as pernas para o desejo
Na fantasia sexual
Num simples beijo
Na mulher que passa, com ou sem, corpo monumental
Nas brigas de transito
No socorro aos aflitos
Nos shots pequenos
No suor da esteira ao lado
No supermercado
Nas babás dos filhos
Entre filhos dos filhos
Nos filmes do cinema
Nos fliperamas
Nas brincadeiras infantis em cima da cama
Nas roladas na grama
Na frieza das palavras lidas no computador
No gol do time torcedor
Nas juras de amor
No trabalho
À sombra de um carvalho
Nas conversas do jogo de baralho.
Nasce ao olhar os gestos delicados das mãos,
Do vai e vem das ancas ao andar,
Dos pés descalços a caminhar.
Na poltrona do avião
No samba com cachaça e feijoada
Pelas curvas da empregada
Do carinho pelo cachorro amigo
No ligamento entre umbigo
No cafuné camarada
No ombro confidente
Do abraço no corpo latente
Nas músicas eletrônicas de sábado à noite
No bordel
Dos açoites do chicote
Dentro e fora do motel
Dos romances literários
Dos consoles para solitários
Dos fricotes
Da lembrança de um perfume que o vento traz
De seu gosto que já nem me lembro mais
Da saudade
Das palavras escritas manchadas de lágrimas.
Na lealdade
Nas pernas grossas, ou nos olhos redondos e castanhos
Na boca carnuda
Na pele desnuda.
O amor nasce quando acaba
Enquanto escrevo...
Em ti.

quinta-feira, 25 de junho de 2009



ABUNDÂNCIA

Ixe...
Quanto poeta tem no mundo
Poeta sem nada
Sem ninguém
Sem onde ir
Sem porque chorar
Sem nada a mostrar
Sem porto
Sem putta
Sem labuta.
Ixe...
Quanto poeta tem no mundo
Poeta sem amor
Sem esplendor
Sem malícia
Sem inspiração daquela delícia
Sem mar
Sem dor
Sem furor.
Ixe...
Quanto poeta tem no mundo,
Mundo perdido
Que só tem poeta iludido
Que só lança palavras sem nexo...
Poeta débil e tremulo de álcool,
Frases feitas sem nenhum rigor,
Por nunca ter sentido o gosto
De qualquer amor.
Hum....
Poeta momentâneo: tipo sexo.


MONOGAMIA


Minha pouca inspiração
É fato, pois só tenho uma mulher.
E poesia, todos sabem é infiel.

Poeta feliz é que vive em bordel.
Poeta indigno escreve com tristeza
Quando lembra de sua mulher - a realeza.

Pobre poeta que se acha polígamo
Mas só é infiel no papel.
E que papel é ser poeta fiel!

quarta-feira, 24 de junho de 2009


GOSTO DAS FÉRIAS.

A luz inexistente
O medo constante das idas ao carneiro
As longas rezas do terço
As sombras tremulas vindas do lampião
Os barulhos que acordam o dia
A senhorinha frágil que nunca pára
O cheiro da lenha acesa no fogão
O fosco das panelas de ferro sobre a trempe
O rádio falando na pia gelada e sempre vermelha
Os móveis pretos que escondem as guloseimas vindas da capital
O cheiro de café torrado e moído na hora
O bolo de nada
As centenárias janelas azuis,
Cravadas nas paredes brancas,
Ambas negras de fuligem.
Meu avô no seu trono vitalício,
À cabeceira da mesa.
A água que aquece ao passar pela serpentina.
O cheiro de verde lá de fora,
Tras-me a saliva à boca.
A roupa suja de barro
As botas de borracha
O cheiro de estrume
O sabão de bola
O barulho incessante da água na bica
A pedra de amolar facas
Os canivetes desbravadores
O guloso debulhador de milho
As metódicas galinhas a ciscar
O leite embalado no balde
As vacas no curral a cantar
A beleza da ordenha
O retireiro à hora marcada
As ferramentas proibidas de meu avô
As florestas tropicais ao redor do terreiro
Os pés de cacau
As cabanas alçadas com madeira e lençol
As disputas hierárquicas entre primos
As fazendolas imaginárias
O gado feito de abacate
As frutas colhidas no pé
O córrego que me ensinou a nadar
A ilha dos canibais
As bombas certeiras de argila
As fartas pescarias
O castigo das chuvas constantes
As enchentes
O pique-pega na grama molhada
As montanhas que cercavam meu mundo.
Fazenda...
A escola da natureza
Que me ensinou a amar os bichos,
A ter saudades
Do amanhecer,
Dos gostos,
Dos cheiros,
Dos rostos,
Das férias...
Na casa de meus avós.


PENSAMENTO DESPRENDIDO...

Já fui Caetano,
Agora sou Chico.
Já fui da noite
Agora sou dia.
Nunca fui da água,
Sempre vinho.
Meu pão é carne!
Meu país Brasil,
Minha casa a situação.
A cerca que fecha meu mundo é infinita.
Infinito o labirinto
Dos andares
Dos meus pensamentos...
Sempre fui mar
À montanha.
Atrás do amor
Onde for,
Sempre estou.
Alfabeto baiano
De vocabulário gaúcho
Com modos mineiros
E pensamentos do mundo.
Navegar e viver é preciso!
Meu porto são os amigos.
Os animais cada vez mais
Me ensinam sobre os homens:
Ainda assim prefiro as patas!
Penso mais que ajo,
Aja saco para pensar.
Já fui futuro,
Agora passado.
Do antes me torno presente,
Presente quero ser.
Não me lembro mais de todos os títulos de filmes.
Perdi a conta dos discos,
Não os compro mais.
Migrei da fita K-7
À pirataria digital.
Digital,
À analógico.
Elétrico,
À combustão.
O efeito do álcool
À adrenalina.
Não ando na contra mão.
Reclamo do preço da gasolina.
Já dormi sem energia,
Hoje gasto mais que preciso.
Tenho prazer na leitura
Da qual sempre fugi,
Hoje me perco no imaginário das palavras
E fujo...
Não abro muito os livros.
Não os divido.
Não lembro de tudo que preciso.
Anoto! Onde?
Há quem diga que prefiro as morenas,
Não anteponho.
Gosto das mulheres!
Entendo o balanço dos rabos
E descompreendo o vai-e-vem das ancas.
Tive muitas amigas!
Tento compreender a complexidade feminina
Para tal, necessito de mais seis vidas!
Já gostei de multidão,
De som alto
E carnaval.
Hoje: solidão,
Fone de ouvido
E bossa nova,
Nosso jazz tropical.
Sempre à procura da vida simples...
Sempre com vontade de fazer uma tatuagem...
Sempre com vontade de algo fazer...
Sem nada fazer!
Cada vez mais tolerância zero:
Peso na balança entre o bem e o mal.
Com exames em dia
Apareceu-me o colesterol,
A dor de cabeça,
A ressaca...
Todos tratados a comprimidos
Nem sempre lembrados.
Me escondo dos médicos!
Liberdade sagitariana a cima de tudo.
Escutem: Deus lhe pague!
Sou da cidade
E não vivo sem campo.
Gosto de mudar.
Quero aprender tocar gaita.
Praticar canoísmo.
Conhecer as sete maravilhas.
Queria explodir,
Me espalhar pelo mundo!
Sempre conto o que vi,
Algumas vezes enfeito de imaginação,
Sempre para melhorar a história
E arrancar risadas:
O combustível da vida.
Os bares são os condutores!
Sempre toco guitarra no ar
Canto sem cantar,
Não sei uma música se quer inteira,
Mas converso com os cães!
Não faço a mesa para o jantar
Como em qualquer lugar.
Minhas costas doem de ver televisão
Por tal, durmo no chão.
Minha atenção se vai com qualquer obstáculo.
Preciso de terapia,
Mas não quero pagar.
Quero fotografar,
Pintar,
Escrever,
Aprender a nova ortografia.
Escrevo de mim frases finitas,
Curtas!
Queria voar...
Vôo para o tempo
Que fará de mim um longo caminho
Para que essas palavras se multipliquem eternamente.
Nunca terminei de escrever meu livro.
Não me lembro se plantei uma árvore.
Não tenho filhos.
Não posso morrer!
Tenho desejos
E amo as loiras!
Agora morena.
Não pretendo mais mudar o mundo:
“Eu que já não quero mais ser um vencedor”
Queria mudar minha imagem diante do espelho.
Quero ouvir mais jazz.
Ouço! Mudo!
Quando criança a chuva demorava a passar...
Hoje quase não chove!
Quero paz e adjacências.
Visitarei museus
E todas as galerias de arte.
Não vejo arte
Em certas artes contemporâneas
São novas de mais,
Sem nenhuma revolução.
Darei um golpe de Estado em mim,
Quase nasci no dia do Ai-5:
Cinco anos e dois dias depois...
Cresci em uma ditadura
Imposta no lar.
Ainda aprendo o espanhol
Para facilitar minha libertacion
A luta popular revolucionária dos meus “eus”
Contra mim.
E viva la revolucion!!!!!!